26 de nov. de 2010

Skate Feminino no Estadão




Ir para a Califórnia e ser star, como canta Lulu Santos, é o sonho das garotas que praticam skatismo. Mas poucas conseguem se sobressair na cena internacional, a exemplo da bicampeã mundial de skate vertical Karen Jonz e, mais recentemente, da campeã do ranking da WCSk8 (World Cup Skateboarding), Letícia Bufoni, de 17 anos.
Todos os dias, por exemplo, duas meninas do street, uma das modalidades mais praticadas (consiste em fazer manobras diante dos obstáculos, tais como bordas, corrimões, paredes inclinadas, escadarias), batem ponto no Vale do Anhangabaú, mandando Bigspin, Halfcab Frontside Flip e outras manobras de fazer cair o queixo.
Lindas e cada qual com seu estilo, Deborah Oliveira, a Badel, e Ohana Subahdra, deram entrevista ao Feminino na rampa da loja Yo!, meca de marcas badaladas do streetwear. Segundo elas, para começar no esporte, é preciso investir cerca de R$ 200, o necessário para montar um bom skate nacional. "Mas se for um gringo, sai por R$ 500", fala Ohana.
A gaúcha de 21 anos pratica o esporte há sete. Ela trabalha em um restaurante nos Jardins e, de lá, dribla o trânsito com seu skate até chegar ao centro. Já Deborah Oliveira, a Badel, 20 anos, começou aos 15, andando na pista da Imigrantes. "No começo, escondia o skate na casa de amigas." Isso porque a mãe, que hoje é sua maior incentivadora, não achava a menor graça. Competindo na categoria Amador 1, Badel recebe apoio do Bolsa Atleta, programa de incentivo do governo que dá uma ajuda mínima aos atletas de alto rendimento e sem patrocínio.
Badel aconselha as meninas a não desistirem. "Se levar jeito, não tenha medo, pois você acaba ganhando confiança e domínio do corpo", fala ela, que perdeu 22 quilos desde que começou a praticar o esporte.
Ladeira abaixo. A praia da carioca Christie Aleixo, 33 anos e 15 de skate, é a Vista Chinesa, no Rio, e as ladeiras de Alphaville, em Sampa, onde mora hoje. "Comecei em 97 e nunca mais parei!" É campeã brasileira de slide, terceira no mundial de slide na Califórnia, em 2009, e líder no ranking deste ano.
Christie pratica na modalidade downhill o slide (manobras com derrapagens de roda), slalom (prática executada em percursos definidos com cones) e o speed, de velocidade. "Por ser uma prática que expõe seu corpo a lesões, é importante uma preparação física voltada para a prevenção e rendimento. Usar proteção é essencial, assim como respeitar o seu limite."
A skatista, que recebe apoio do Bolsa Atleta e das marcas Moska Whells, Crail Trucks, NewSkate e Bomdrop!, dá seu recado para as iniciantes. "Temos dois caminhos. Um é escolher apenas a prática, o que se torna rotina na vida, como natação, dança, luta. Ou optar pela profissionalização. Nesse caso, além da técnica, temos de aprender a nos relacionar bem com as empresas de skate e a trabalhar nas mídias, a fim de dar visibilidade ao público feminino", aconselha.
Renata Paschin, que compete nas categorias bowl e vertical, é mais uma Peter Pan sobre rodinhas. Com mais de 30 anos e formada em Odontologia, Renatinha, como é conhecida no meio, aparenta ser bem mais nova. O segredo da juventude é uma mistura de preparo físico e higiene mental. "Faço musculação e alongamento todos os dias, e treino de uma a duas horas sem parar depois que saio do consultório."
Segunda colocada da categoria bowl em Praga, e juíza na Confederação Brasileira de Skate, começou aos 14 anos, influenciada por um primo. "No começo, sofri muito preconceito por parte da família, que chegou a me tirar o skate, quando até adoeci! Devolveram depois, mas colocando restrições. E até pouco tempo atrás, escondia o esporte de clientes e amigos."
Quanto à valorização das atletas, Renata vê um avanço. "Antigamente as marcas não queriam investir em atleta mulher. Hoje, respeitam e apoiam." Ela criou a ONG Associação Feminina de Skate, que leva o skate para meninas de comunidades carentes, e lhes mostra como podem viver do esporte.
Caindo na real. Praticante do esporte por diversão, a designer gráfica Evelyn Leine manteve por sete anos o site www.skateparameninas.com.br, que começou como um trabalho de escola. O banco de dados virtual é uma ferramenta-chave para a inclusão das meninas no esporte.
Sem perspectivas de apoio, deixou o site (ainda no ar) e hoje mora na Califórnia. "O Skate Para Meninas fez muitas ações. Nossos campeonatos, promovidos com verba pública, eram os maiores do Brasil. Chegamos a organizar três grandes eventos, sempre recebendo meninas de diversos estados, dando a elas as melhores premiações, tratamento vip e, principalmente, estimulando a imagem do skatismo feminino na mídia."
Sobre as principais dificuldades ou desafios que as garotas enfrentam no esporte, desabafa: "Ainda hoje, para você conseguir viver do skate, infelizmente, precisa procurar uma maneira de ir para os Estados Unidos regularmente, competir nos eventos e arrumar um patrocínio que, diferentemente de apoio (quando as marcas fornecem roupas e material), é um vínculo contratual com ajuda de custo e uma cota fixa por mês, o que dá o mínimo para a pessoa se manter."
Segundo ela, é muito difícil conseguir sobreviver só de skate. "Mas várias pessoas fazem trabalhos paralelos no meio, como tirar fotos, organizar eventos e escrever. É uma forma de se conseguir viver, fazendo o que se ama."
A tribo aumentou
Segundo Ed Scander, diretor esportivo da Confederação Brasileira de Skate (CCBK), o número de mulheres no esporte vem crescendo nos últimos anos. "Um levantamento feito em 2009 mostra que são 385 mil meninas em todo o País. Em 2002, as mulheres representavam 6%; em 2006, 7%, chegando a 10% em 2010, de um total de 3,8 milhões de praticantes."
Ainda de acordo com o estudo da CCBK, as maiores concentrações de praticantes, em geral, estão no Sudeste (48%), seguido das regiões Sul (21%), Nordeste (18%) e Centro Oeste/Norte (14%), sendo que 52% estão nas capitais e regiões metropolitanas, e 48%, no interior.


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