22 de set. de 2010

Amor sem fronteiras - A skatista Adelita Garrido Montero se apaixonou por um americano.


Adelita avistou Francis pela primeira vez em uma boate descolada de São Paulo, quando estava se despedindo do Brasil para embarcar para a Califórnia, nos Estados Unidos. Francis era gringo, estava no país a trabalho e havia sido carregado para a balada por um sócio. ''Eu estava comemorando meus últimos dias em São Paulo, pois ia participar de dois campeonatos de skate e de uma feira de negócios em San Diego e Orange County. Ouvi alguém falando inglês, o que era bem incomum, e me dirigi até a pessoa para testar minhas habilidades com a língua.

Acabou que o cara era da Califórnia e eu contei pra ele sobre minha carreira como skatista e sobre como minha agenda estava nos próximos meses. Senti-me atraída desde aquele início.'' Os dois trocaram telefones e encontraram-se na noite seguinte. ''Eu fui até Santo André para buscá-la. Ela me mostrou São Paulo e depois fomos assistir a um show de reggae'', lembra Francis.

Ao aterrissar na Califórnia, em agosto de 2000, Adelita ligou para o escritório do americano. Mesmo estando a duas horas de distância, ele pegou o carro e foi vê-la. ''Eu a convidei para jantar e dirigi pela costa de Del Mar no meu conversível. Estávamos nos apaixonando.'' Em dezembro de 2000, o visto de turismo de Adelita expirou, obrigando-a a dizer adeus e voltar para o Brasil. Assim que chegou, percebeu que sentia saudade de Francis.

''Em fevereiro de 2001, surgiu a oportunidade de participar de outro campeonato em Long Beach. Consegui outro visto de turista, liguei para Fran e decidimos que eu ia ficar na casa dele em Seal Beach. Logo estávamos discutindo nosso futuro juntos, e eu queria que ele conhecesse minha família. Pensávamos em nos casar e eu começaria a estudar.'' Adelita se cadastrou em alguns cursos de uma faculdade e conversou com uma conselheira de lá para saber o que precisaria para conseguir um visto de estudante. Ela preparou a papelada e, em seguida, o casal pegou um avião para o Brasil para encontrar os pais dela.

''Quando fomos ao consulado em São Paulo para mudar meu visto de turista para um visto de estudante, não somente negaram o de estudante como cancelaram o de turista que ainda não tinha expirado. Foi um pesadelo. Disseram que eu estava passando mais tempo nos Estados Unidos do que no Brasil.'' ''Ficamos arrasados'', lembra Francis. ''Estávamos muito apaixonados e fomos forçados a dizer adeus por tempo indeterminado. Tive de voltar pra casa sozinho. Adelita ficou no Brasil tentando conseguir novo visto, mas era continuamente negado.''

Desesperado, o americano pediu conselhos a um advogado de imigração, que disse para ele trazer sua namorada para os Estados Unidos pelo México e, depois, casar-se com ela, achando que, assim, poderiam ajustar o status dela. Num momento de impulso e saudade, Adelita embarcou para a Cidade do México, onde pegou uma conexão para Tijuana. ''Era 4 de julho e haviam muitos carros na estrada. Pessoas demais estavam voltando do feriado e era a oportunidade perfeita para pegar carona até San Diego. Foi exatamente o que eu fiz.

Passei pela fronteira sem responder a pergunta alguma. Foi simples.'' ''No dia 5 de julho de 2001, eu e Adelita nos encontramos novamente. Eu me ajoelhei e a pedi em casamento. Ela imediatamente disse 'sim' e nos casamos cinco dias depois, em Las Vegas.'' Francis e Adelita estavam nas nuvens. Depois do casamento relâmpago, encontraram-se com um conselheiro de imigração que os informou que, que a brasileira estava casada com um cidadão americano, poderia dar entrada para sua residência permanente nos Estados Unidos. Os recém casados, mais uma vez, preencheram a papelada necessária. E receberam outra notícia terrível. A imigração rejeitou o pedido dela por ter entrado no país sem qualquer inspeção.

''Eu não estava entendendo nada, era tudo muito complicado. Ninguém havia me dito que se eu ficasse nos Estados Unidos ilegalmente por dois anos, estaria sujeita a 'ten year bar'. Quando você fica mais de um ano ilegalmente, só pode tentar entrar no país novamente depois de dez anos. Foi muito doloroso quando me dei conta do que eu havia feito.''


''Rezávamos por uma mudança''


Adelita ficou nos Estados Unidos e, em 2002, descobriu que estava grávida. O casal decidiu que não podia abandonar o negócio, que ia bem. ''Durante esse tempo, ela foi para a faculdade aprender inglês. Adelita também tinha um plano de saúde por meio da minha companhia e nosso casamento estava cada vez mais confortável. Rezávamos por uma mudança nas leis deimigração, pois, na época, havia uma discussão grande no país, mas nada aconteceu.

Pensei em vender meu negócio para focar na Adelita, no nosso casamento e me mudar para o Brasil, mas ela não queria que eu largasse meu sonho de ser dono da própria companhia. Ela também tinha medo de que eu me arrependesse de ter me casado com ela. Concordamos em não separar a família e decidimos esperar.'' Anos se passaram. Longe da família brasileira, Adelita se remoeu e sofreu.

Em 2009, sua carteira de motorista expirou. Para renová-la, teria de provar que era residente permanente. Sem poder dirigir, sua vida tornou-se insuportável. Não podia buscar seu filho na escola, não podia sequer ir ao supermercado. Sua existência tornou-se inútil e em abril de 2009 deu à luz outra criança. ''Foi aí que decidimos recomeçar o processo de imigração para pedir que o governo dos Estados Unidos perdoasse Adelita por sua moradia ilegal e retirasse a penalidade da 'ten year bar'.

Foi muito doloroso, mas sabíamos que era hora de lidar com as decisões que tomamos em 2001'', conta Francis. A fim de usufruir dos benefícios desse perdão, que os americanos chamam de ''waiver'', é preciso provar que um parente americano vai sofrer emocionalmente, fisicamente e financeiramente. Não é algo fácil de se conseguir.


''Não tinha mais o que fazer''


Para isso, Adelita teve de voltar para o Brasil voluntariamente. Depois de ser prisioneira dos Estados Unidos, ela lembra bem das dificuldades de ser uma imigrante ilegal na América:

''Durante todos esses anos, eu não pude arranjar emprego e tive de depender financeiramente do meu marido. E eu sentia muita saudade da minha família no Brasil, e não pude vê-los por nove anos! Foi algo muito difícil para mim. Meu avô faleceu e eu não o via há anos. De repente o perdi para sempre. Além disso, perdi oportunidades profissionais e de viagens. Por ser ilegal, paguei o triplo do custo da universidade. Fiz amizades com americanos, mas sempre mantive esse segredo de que eu era ilegal.

Tinha receio de as pessoas me julgarem, de me rotularem e de não verem a pessoa que eu realmente sou. Durante esses anos, tentei sempre olhar pelo lado positivo das coisas, mas, depois de tanto tempo, minha situação começou a pesar. A gota d'água foi quando a carteira de motorista expirou. Não tinha mais o que fazer.''

Ela voltou para o Brasil em maio de 2009, com Michael, seu bebê de 1 mês e meio, e sem saber se teria de ficar ausente por dez anos. Permaneceu em Santo André, na Grande São Paulo, até o dia da entrevista que decidiria sua vida, rezando para que a situação fosse finalmente resolvida. Adelita precisava que o governo americano abrisse uma exceção e perdoasse sua atitude impensada.

A espera não foi fácil. Francis a visitou com Joseph, o filho mais velho, em julho, e a família pôde passar curtas férias em Juqueí, no litoral paulista. Em agosto, ele retornou para os Estados Unidos, deixando o primogênito no Brasil para mais tarde ser levado de volta pra casa pela avó materna. Com a família separada, ela se sentia morta. ''Eu era quase como uma alma penada.''


''O natal foi cancelado este ano''


No fim do ano, Francis e Joseph voltaram para passarem o Natal juntos. Mas quando desembarcaram em solo brasileiro, a Polícia Federal impediu a entrada deles no país. Ao ouvir o menino chorar, um policial disse: ''O Natal foi cancelado este ano''. Os dois tiveram de voltar.

''Este é o meu apelo, do fundo do meu coração, com cada pedaço da minha integridade e das minhas crenças. Eu imploro por misericórdia e compreensão. Que seu senso americano de justiça faça o que é certo. Os fatos nesse caso vão mostrar que é certo perdoar minha esposa, Adelita, e deixar nossa família viver junta em paz'', pediu Francis em uma carta ao governo.

Em 17 de fevereiro de 2010, Adelita conseguiu o que parecia impossível: o perdão do governo americano. Em 31 de março, o novo visto chegou a suas mãos e desde 3 de abril de 2010 a skatista está legalmente nos Estados Unidos. A volta por cima foi merecida.

Hoje, a brasileira, aos 29 anos, tem uma empresa de publicidade e gerenciamento de redes sociais chamada Mariposa Social Media Marketing, e ocupa seu tempo andando de skate, trabalhando, e cuidando dos homens de sua vida. ''É preciso ter muita fé em Deus, mas antes de tudo, consultar um advogado'', conclui Adelita.


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A skatista brasileira Adelita Garrido Montero entrou nos Estados Unidos pela fronteira do México e ficou sem poder voltar para o Brasil por nove anos

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Desde abril deste ano, Adelita, com o pequeno Michael, de 1 ano e 5 meses no colo, voltou a levar Joseph, agora com 7 anos, para a escola, dividindo-se entre os cuidados com a família e os negócios

Fonte: CONTIGO
Fotos: Ana Paula Negrão

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