9 de ago. de 2010

Bufoni sem medo de se jogar

22 de Abril, 2010
Entrevista Por EXPN

A paulistana Letícia Bufoni é uma grande expoente do skate brasileiro no cenário internacional.
Ela conquistou respeito de skatistas, independente de sexo, com seu skate técnico e agressivo, que se destaca tanto nas sessões de rua e pistas, como nas competições. Com seus recém-completados 16 anos de idade, já conquistou ótimas colocações nos principais eventos do mundo. Duas 5ª colocações: X Games de Los Angeles e Maloof Money Cup, ambos em 2008. Mas é apenas questão de tempo para que Letícia comece a vencer os campeonatos.
Seu talento está amadurecendo nos EUA, onde mora há três anos. Em passagem pelo Brasil pra visitar a família e os amigos, Letícia passou pelos estúdios da ESPN Brasil para participar ao vivo do Planeta EXPN.
Neste dia ela falou de sua nova vida estudando e descobrindo o skate onde tudo começou, a Califórnia.

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Ollie para a rua
Foto: Ana Paula Negrão

Aguinaldo Melo: Quanto tempo faz que você se mudou pros EUA e vive só pensando em skate? Só skate nos EUA faz três anos. Eu tô indo pra lá direto. Agora já tô morando lá. Vou ficar lá direto agora, saiu meu work visa. E agora minha casa é lá.

Sidney Arakaki: Agora você tá trabalhando com skate, você é profissional lá? Já tem model? Eu ainda não tenho model, pretendo ter um dia. Mas eu tô só andando de skate, tô estudando, vivendo do skate. E sou da categoria profissional.


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Backside flip
Foto: Ana Paula Negrão


Sidney: Como é a rotina do skatista profissional lá? Muito diferente daqui do Brasil? Ah, eu acho que os brasileiros treinam mais que os americanos. Os brasileiros tão todos os dias ali, treinando. Os americanos já não, só saem mais pra andar de skate nos spots, pra filmar, tirar fotos. Brasileiros não. Todos os dias indo pra skatepark treinar, andar na rua, filmando, tirado fotos. Acho que o americano é mais preguiçoso.

Sidney: E os patrocinadores valorizam mais o que? O que eles exigem de você? Querem ver fotos, filmagens, andando com a camiseta. Eles querem que eu esteja num campeonato com uma camiseta, um boné, um adesivo no board. E sempre fazendo fotos, filmagens, pra anuncios, tal.

Aguinaldo: No momento, as meninas estão em uma certa evidência no cenário do skate. O que você acha disso? Esse momento tá mais difícil por causa da crise do país. Mas o skate feminino tá muito valorizado nos EUA. Aqui no Brasil não tá muito ainda, mas eu acredito que um dia vai estar mais valorizado.

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Ollie sobre o buraco
Foto: Ana Paula Negrão

Aguinaldo: Teu pai comentou com a Vivian (Mesquita) que você foi pro México e rolou um certo assédio. Como tá esse lance do assédio?Teve o campeonato do México. Tem uma marca que faz um website de skate feminino, que chamaChicarider e ia ter uma demo das meninas. Aí eles queriam fazer uma tour pra mim fazer uma demo. Aí, aproveitei que tava lá, falei que eu ia correr esse campeonato. Foi eu, a Karen Jones e a Ana Paula, que é uma fotógrafa (brasileira). Quando eu e a Karen chegamos, todo mundo começou a gritar. Gritavam nosso nome e começaram a empurrar a cerca pra passar, ultrapassar a pista. Tinha mais de 25 mil pessoas no estádio. E a gente teve que sair de lá com seguranças, porque ninguém queria deixar a gente passar. E acabaram derrubando toda a cerca da pista. Acabou não rolando o campeonato porque derrubaram e invadiram a pista. Foi um negócio de louco, muito style.

Sidney: Só vocês três? E o Mike Vallely.

Aguinaldo: Você tava falando de treinar. Onde você anda em Los Angeles?
Agora tem uma skatepark nova, do Rob Dyrdek. Ele fez uma skatepark que só tem pico de street. Duas escadas, corrimão, caixote, manual. É só pico de rua. Não tem nada como rampa. É muito legal pra treinar, eu vou lá todos os dias com meus amigos da escola. É animal a pista.

Sidney: A pista que você andava aqui no Brasil, que você se revelou, a Plasma Park, fechou mês passado. Se você voltasse ao Brasil, teria onde andar? Eu fiquei muito triste quando fiquei sabendo que ia fechar. Logo na época que eu tava vindo, porque eu adorava andar lá. Lá é o lugar que eu mais gostava pra treinar.

Sidney: No mundo ou aqui no Brasil? No mundo não. Aqui no Brasil só. Mas eu adorava andar lá. E fechou, eu fiquei muito triste. Aí, quando eu fiquei sabendo eu falei, "ai, não, e agora, onde eu vou treinar?". Mas tem outra pista perto de casa também, a Tiquatira. Tem essa pista aqui do Sumaré, tem o Carandirú. Tem várias outras pistas.

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Frontside feeble
Foto: Ana Paula Negrão


Sidney: Mas morando no Brasil, sem a pista da Plasma, teria como você continuar evoluindo?Teria sim, porque tem bastante pistas agora. Tem Mauá, São Bernardo, tem a Roller Brothers que eles tão reformando, tem Tiquatira, pertinho da minha casa. Antes de ir pra "gringa" eu ia todos os dias. Eu ia todos os dias pra pista, meia-noite, saia as três, quatro da manhã. Andava toda madrugada com meus amigos e foi isso que me ajudou evoluir cada vez mais.

Aguinaldo: Você falou bastante coisa de treinar. Eu lembro de ter visto alguns vídeos, você andando, tal. Não é bem um treino, né? É coisa de skatista mesmo, se divertir. Como é seu treino? Eu gosto muito de me divertir. Skate é uma diversão. É um trabalho, mas é uma diversão. E eu treino bastante porque eu sei as horas pra treinar e as horas pra se divertir. Eu tenho aquilo, eu treino bastante, mas também me divirto bastante. Porque se ficar nessa só de treinar, treinar, treinar, não rola.

Aguinaldo: Você sempre foi uma molecona do skate. Como você vê isso, de sempre estar brincando com os meninos? Desde pequena eu sempre fui molecona. Sempre andava com meu pai, nunca andava muito com minha mãe. Brincava com os moleques de futebol, de empinar pipa. Aí o skate , não tem muitas meninas que andam aqui no Brasil. Eu andava todos os dias só com moleques, o Vinícius. Foi isso que me ajudou a evoluir, porque com as meninas você não evolui. Andar com os caras você evolui muito mais.

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Frontside boardslide num dos corrimãos mais famosos do mundo, em Los Angeles
Foto: Ana Paula Negrão


Aguinaldo: Como foi o processo do work visa? Eu tava lá correndo os campeonatos, aí eu entrei pra Osiris. Aí eu decidi que queria morar lá de qualquer jeito, porque eu tava filmando pro vídeo da Osiris e tal. E eu não podia voltar pro Brasil porque eu tava filmando lá. Aí eu falei, "meu, preciso morar aqui agora. Mas como que eu vou fazer? Não posso ficar ilegal porque tem vários campeonatos na Europa, México, e eu não vou ilegal sem visitar minha família, sem correr os campeonatos." Aí, teve uma reunião com a Osiris, que eu ia fechar o contrato, e falei, "vou pedir o work visa pra eles". O máximo que eu receberia é um não, né? Como os caras da Osiris gostam muito de mim, eles são muito gente boa, eles falaram, "já que é pra você ficar aqui, vamos dar o work visa pra você. Você vai morar aqui, a gente vai te apoiar, te dar um suporte legal." E é isso. Aí eu fechei o contrato com a Osiris e eles fizeram o work visa pra mim. Saiu em três meses. Foi muito style, fiquei muito feliz quando saiu. Nem acreditei. Um sonho realizado. Eu vim agora pro Brasil, pra passar o work visa pro passaporte.

Aguinaldo: Como é que foi os X Games de Los Angeles? A respeito dos X Games, foi style, porque eu fui uma das melhores do mundo convidadas. São dez meninas melhores do mundo inteiro e eu sou uma delas. Eu tava ali com elas, correndo. No primeiro e no segundo obstáculos eu tava em segundo lugar. A Elissa Steamer tava em primeiro. Aí chegou no último lugar, era uma double set muito grande. Um corrimão e um caixote muito grandes. Eu tava andando, as meninas não andaram muito. A que andou mais foi a Amy, a Elissa, a Vanessa (Torres) também andou bem ali. A Evelyn e a Marisa Del Santo. As outras meninas não andaram muito. E foi no último obstáculo que eu não fiquei muito bem posicionada. Aí minha colocação foi pra quinto lugar.

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Frontside melon transfer no Arizona
Foto: Ana Paula Negrão


Aguinaldo: E, se por um acaso, você for convidada pros X Games XV, já se adaptou em alguns obstáculos maiores?
Agora já treinei mais, já tô mais acostumada, porque todos os anos eu tava me ferrando no último obstáculo, que era o maior. Minhas pernas não aguentavam. Agora eu tô treinando bastante em escadas, corrimãos, porque eu quero me dar bem nos próximos X Games.

Aguinaldo: Tem um segredo de menina pra aguentar o impacto de escadas grandes, corrimão grande? O segredo é treinar bastante, fazer acadêmia e não pode ter medo, porque é grande.

Aguinaldo: Quanto tempo falta pra você se formar, e como está sendo estudar lá fora? Lá se chama nona grade, aqui é primeiro colegial. Eu entrei na escola faz seis meses e vou me formar daqui três anos, se eu não repetir nenhum, né? Tô estudando bastante pra não repetir.

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Rockslide básico
Foto: Ana Paula Negrão


Aguinaldo: Como é estudar num lugar que é conhecido por ter os picos? Escolas são lugares bons pra andar de skate. Provavelmente os moleques da escola também andam de skate.
Na minha escola tem muitos moleques que andam de skate.
Eu ando com eles toda semana. Na hora que eu cheguei na escola, fiquei morrendo de medo, pensando, "não vou entender nada do que o professor tá falando, vou ficar perdida aqui, e agora?".
Mas agora tá ficando mais suave, tô com muitos amigos na escola, tô aprendendo inglês, minhas notas estão boas, estudando direto. É mais difícil que aqui. Tô aprendendo coisas que eu não aprendi aqui no Brasil. Totalmente diferentes.







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Backside smith em São Francisco
Foto: Ana Paula Negrão

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